Escrever é um processo solitário.
olho pra mim mesmo com aspereza e tiro o que de pior há
sobre a maneira
como permito escorrer,
nas relações afetivas ou amorosas,
no cotidiano brusco e na queda fatal.
Debruçar-se nos fatos, tarde da noite, virou rotina.
Já não durmo como antes, não sei se algum dia dormi.
não lembro da paz invadindo meus brônquios.
Semana passada outra crise de ansiedade deitou nos meus
ombros. choro
copiosamente por pessoas que nem existem, porque eu as
inventei no meu
imaginário social.
é o processo mais doloroso que existe.
A cabeça pesa e flutua.
às vezes não tem força divina que te resgate
e você ainda acha que é salvação estraçalhar a goela
gritando pra dentro uma
solidão que é sua
mas faz os outros tentarem — e só tentarem — te compreender.
escrever é o ato, no entanto, mais corajoso que existe. você
coloca uma
arma contra a própria cabeça e às vezes dispara. a arma pode
ser sua
própria desesperança nas coisas. a fé ruindo feito qualquer
prédio antigo
do centro da cidade.
A saudade de alguém que nunca esteve. e mesmo assim você
escreve
porque é o que te parece mais natural e inviolável, afinal,
ninguém
colocaria todos os edemas nas folhas
de papel como você.
Olho pra mim tentando não capturar os centímetros da sua
pele que ficou no
sofá.
O fogo da solidão começa a arder as pernas, ombros, por fim
o peito.
contenho-me pra não parecer desesperado ou ansioso.
falho na minha própria fuga de adulterar memórias pra que eu
não consiga
senti-las, mas eu ainda sinto os olhos arderem, a respiração
tremular, o oco
do mundo me atravessando a nuca, a solidez.
Que escrever é como despir a parte mais honesta
e frágil de si próprio pra que os outros, com a frieza de
dois ursos, comecem
a interpretar
o ser humano.
Será que sou?
às vezes não tem força divina que me resgate.
Livro: Textos cruéis demais para serem lidos rapidamente -
Profundo, mais verdadeiro.
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